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Xuxa relembra infância e brinca: "Como eu sou velha, Senhor!"

Colunista da Revista CONTIGO!, a apresentadora reflete sobre a passagem do tempo

Redação Publicado em 28/04/2017, às 14h45 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h45

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Xuxa Meneghel - Reprodução/Instagram
Xuxa Meneghel - Reprodução/Instagram
Revirando fotos antigas, vi muita coisa da Sasha e quase nada meu. E, nesse processo, por algumas vezes, me perguntei como o tempo mudou. Antes, não tínhamos a possibilidade de fotografar ou filmar tudo, principalmente quando eu era criança. Já com os meus netos será diferente – e muito mais fácil! -, pois o celular e a tecnologia farão com que gravemos as melhores imagens para sempre. No meio desse pensamento, começou a me dar uma nostalgia da infância, de Santa Rosa (Rio Grande do Sul), Bento Ribeiro (subúrbio do Rio de Janeiro) e Coroa Grande (litoral do RJ), onde passei a maior parte da minha pré-adolescência e adolescência. Acredito que usar a memória para contar uma situação que aconteceu naquela época é o que me resta, pois não tenho registros desse tempo para mostrar.
A família Meneghel, eu, meus pais e meus irmãos –Blad, Cira, Mara, Sola – além do Kiko (meu cachorro) e Nando (meu periquito), pegava o trem de Bento Ribeiro até Deodoro. Um percurso de cerca de 20 minutos. Lá, trocávamos de trem para chegar até Santa Cruz. Mais uma hora de viagem. Depois, outro trem. Esse, feito de madeira, era chamado de ‘macaquinho’. Duas horas (ou mais) de trajeto e chegávamos a Coroa Grande. Andávamos um bom bocado com bolsas e os animais até chegarmos na casa que meu pai tinha alugado. Ela tinha dois quartos. Em um deles havia um beliche. No outro, uma cama de casal. Antes de entrarmos, era preciso limpar tudo, pois o local passava a semana toda fechado. Escrevendo isso me veio o cheiro da borracha queimada do trem! Deu para ouvir meu irmão, Cira, cantando no ‘macaquinho’. Senti o aroma de mato ao chegar em Coroa e até do desinfetante que a minha mãe usava para limpar a casa, principalmente o banheiro e a área... 


A família Meneghel em Tramandaí, litoral gaúcho, em 1966: Xuxa é a menina que segura uma boneca (à esquerda) (Foto: Arquivo pessoal)

Não existiam celulares para fazer um registro disso tudo. Me lembro, um rolo de filme com 48 poses ou 42 precisava durar o ano todo (risos). Como eu sou velha, Senhor! Minha filha, ou qualquer pessoa com a idade dela, não deve conseguir imaginar isso. Alguém de 18 anos perguntará onde estão as fotos e vídeos desses momentos. É, mas está tudo guardado aqui, como um tesouro que ninguém poderá ver ou chegar perto mesmo com uma linda imaginação. Mas, juro, o que eu vivi foi mágico. Mágico porque é assim que nossa cabeça, sem imagens palpáveis, faz a gente ver, sentir... Se tudo isso estivesse gravado de alguma forma, talvez, não seria tão especial assim.
Mas vamos continuar com as minhas lembranças. Tentarei descrever uma cena marcante que aconteceu em Coroa Grande. A casa era azul e branca. Hoje, ela é amarela. Pintaram a nossa casinha… que não é mais nossa. Na frente, só mato. Nada de asfalto. O meu pai plantou uma árvore grande, dizendo que, um dia, compraria um carro para estacionar ali. E ele comprou: um fusca vinho bem velho. Hoje, a região já está toda asfaltada. Mas tente imaginar uma rua de barro, uma árvore linda, um céu forrado de estrelas (só tinha um poste de iluminação na quadra e ficava na esquina). Um dia, a família Meneghel estava fazendo a faxina e… acabou a luz! Não tínhamos velas o suficiente para continuar a limpeza. Então, a minha mãe colocou uma esteira de praia e um edredom na frente da casa.


Registro de 1964, em Santa Rosa (RS): Xuxa é o bebê no colo da mãe, ao lado dos irmãos Solange, Cirano (falecido 
em 2015), Bladimir e Mara (Foto: Arquivo pessoal)

Para iluminar, uma vela. Ela ainda preparou um lanche para nós, como se fosse um piquenique. Ela fazia com que nos deitássemos para ver as estrelas e, quando a vela terminava, cantava até adormecermos ao som de sua doce voz. Era tudo lindo! Como eu amei cada detalhe: sua voz, seu cheiro, seu lanche, meus irmãos... Tudo! Podem até achar bobo o que direi, mas hoje sei: eu era mais do que feliz... e sabia! 
Obrigada, Deus, pela vida que tive, que tenho e ainda terei.